Lei antifumo requer um novo manual de etiqueta
Boas maneiras serão fundamentais daqui para frente, para saber lidar com quem quiser infringir as regras
Passar o polegar sobre a pedra do isqueiro, ver o fogo surgir e aproximá-lo do cigarro. Aspirar a fumaça, como se tomasse um susto leve, e, depois, soprar em finalização de alívio. A sequência trivial para qualquer fumante agora, com a lei antifumo, pode significar falta grave de educação, capaz de atrapalhar uma reunião de negócio, um primeiro encontro ou até mesmo grandes eventos sociais. Fumar em lugar errado virou falha tão grave quanto chegar à festa sem ser convidado. Quase simultaneamente à legislação antitabaco, surgiu um novo manual de etiqueta. "Toda vez que há um marco na convivência regras de etiqueta são criadas, até para facilitar a sobrevivência das pessoas", afirma a professora e consultora de etiqueta Ligia Marques. "Foi assim com a lei seca, agora mais recentemente com o vírus H1N1 (não pega bem chamar de gripe suína) e também com a nova legislação do cigarro", completa ela, que, no próximo mês, lança um livro só sobre situações urbanas que merecem uma "pitada" de bons modos, como o trânsito.Desde a sexta-feira, é proibido fumar dentro de bares, restaurantes, casas noturnas, empresas, shoppings e até salão de condomínio. O estabelecimento que não coibir a prática está sujeito a multas que variam entre R$ 792,50 e R$ 1.585, valores que dobram na reincidência e rendem até suspensão das atividades após o terceiro flagrante. Para saber como agir, e principalmente não agir, com a transformação do ato de fumar em contravenção, a reportagem do Estado convidou a consultora Ligia para um passeio pela capital. Dez situações foram escolhidas (veja ao lado) como carros-chefes do comportamento mais indicado, frente às novas regras sociais. ANTIFUMO NO CURRÍCULOO primeiro grande desafio da lei antifumo enfrentam os garçons, já que cabe a eles a missão de alertar os clientes - que é bom lembrar, acham que sempre têm razão - que caso queiram fumar é preciso procurar o lado de fora. O chef francês Erick Jacquin já bolou uma estratégia para o seu restaurante, em Higienópolis, zona oeste da cidade, que sempre teve área de fumante. "Alertamos os funcionários a levar o cinzeiro até o cliente, pedir que ele apague e sugerir que procure o lado de fora." A preocupação em atender bem a clientela que fuma, sem correr o risco de pagar multa por isso, fez com que a Escola de Gastronomia e Hotelaria, que tem três sedes em São Paulo, adotasse a lei antifumo no currículo. As aulas para novos alunos começaram no início da semana passada e a ideia é ensinar aos alunos, garçons, barmen, hostess, cozinheiros e camareiras as maneiras mais delicadas e elegantes de abordar os clientes fumantes, sem espantá-los. A escola é mantida pelo Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Restaurantes, Bares e Lanchonetes. "Em dezembro, será a formatura da primeira turma de profissionais já capacitados em lei antifumo", diz José Bonifácio de Melo, diretor cultural e executivo da entidade. Tudo isso porque na madrugada de quinta para sexta-feira, primeira em que as sanções da lei antifumo já podiam ser aplicadas, não faltaram exemplos de que "descer do salto" pode ser sequela das novas regras. Fiscais da fumaça foram ameaçados, à tapa, por fumantes enfurecidos, garçons intimados a fazerem "vistas grossas", banheiros - que por ora ainda não têm detector de fumaça - acabaram reunindo infratores que fumaram mesmo com os avisos espalhados por lá. As bitucas, jogadas no chão, viraram prova de falta de educação e mereciam um manual exclusivo só para elas. Mas não são apenas os donos de bares e restaurantes que precisam de etiqueta, e estômago, para lidar com os clientes. As festas particulares, em bufês e salões de condomínios, também precisam cuidar de seus convidados fumantes ou podem acabar multados pela fiscalização. "A melhor forma é sinalizar bem o condomínio e evitar que as denúncias sejam usadas como picuinha entre moradores", orienta Angélica Arbex, diretora da Lello Condomínios. "E não adianta dizer que não sabia. Não há nada mais sem etiqueta do que ser mal informado", resume a consultora de etiqueta Célia Leão.
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